1 de nov. de 2011

MITOS SOBRE O PERDÃO



Esse é um dos assuntos mais tratados pelos pregadores, e especialistas em aconselhamento. O perdão é a pauta de vários seminários, esta sempre presente nas mais diversas terapias, sejam elas comportamentais sejam elas de cunho espiritualista, de fato não é possível se falar sobre vida sem se falar em perdão.

Contudo com um pouco de atenção é possível verificar a existência de alguns mitos que de alguma forma podem na realidade adoecer mais do que curar as pessoas que tiveram algum passado traumático ou mesmo que foram o alvo de algum tipo de violência ou abuso. São mitos que se replicam entre falas e aconselhamentos, são mitos porque não são capazes de se sustentar, e talvez possam criar esperanças frágeis que se transformaram rapidamente em mais um trauma. Assim sendo vejamos alguns desses mitos:

Mito 1 Quem perdoa esquece: o esquecimento é próprio de quem sofre de amnésia, perdão não é amnésia, perdão não é esquecimento, embora quem perdoe deve ser desestimulado a lembrar-se sobre o ocorrido, não é possível que alguém não seja capaz de ser lembrado de fatos, nomes, e pessoas.

Mito 2 Quem perdoa não quer justiça: é importante que se diferencia três elementos importantes,vingança, justiça, e correção. A vingança é um desejo mesquinho, é querer que o outro sofra na mesma proporção o dolo que promoveu. A justiça e a correção consistem em solidariedade com o que é honesto, integro. Perdoar é ser equilibrado no sentido de evitar qualquer compromisso com a “lei de Talião”, aquela lei que diz que a justiça se faz “olho por olho, dente por dente”.

O perdão não é ausência de aspiração de correções. A vingança olha para trás, pretende corrigir o passado, a correção olha para frente, quer prevenir o futuro. Quem perdoa para de olhar para trás, contudo não perde de vista o futuro, para que os traumas de ontem não se reproduzam amanhã.

Mito 3 Quem perdoa não exige arrependimento: perdão sem arrependimento é anistia, pode a médio e longo prazo inibir o super-ego e despertar sociopatia entre os agressores, nas relações humanas exigências tendem a gerar patologias, manipulações, de tal forma que um agredido não deve iniciar uma busca frenética pelo arrependimento do ofensor, ornada com a cereja do pedido de perdão que enfeita o bolo da restituição. 
Contudo o perdão não é algo banal, barato, sem valor, sem custo, que deve ser distribuído de maneira leniente e relaxada. Isto porque pelo menos nos textos religiosos, em particular o texto bíblico, perdão e arrependimento SEMPRE APARECEM JUNTOS.

Mito 4 Quem perdoa fica curado: é verdade que o perdão auxilia a  interrupção de processos patológicos existentes em virtude de ofensas, agressões ou mesmo abusos, contudo o que adoece são os fatos, as implicações destes, são os resultados que adoeceram, o perdão poderá minimizar estes efeitos, mas dificilmente eliminará todas as patologias existentes. Isto porque alguns distúrbios são resultados de perdas, não necessariamente da memória da perda. É importante que se diga que perdão não é automático, ele é um processo, exigir da parte ofendida uma resposta piedosa fora do tempo é prolongar a violência.

Então o que se pode dizer sobre isto? O que se pode fazer pelas pessoas que são ofendidas, e pelos ofensores é identificar toda e qualquer aspiração revanchista, sem com isso ignorar a necessidade de correção e disciplina. Os ofendidos não podem ser colocados no banco dos réus, no tão logo manifestem dificuldades em assumir a postura perdoadora que todos exigem. Chantagear com doenças, castigo divino, rotulação não ajudam as pessoas abusadas e ofendidas, o que essas pessoas necessitam é aceitação, pois esta sim, gera saúde e transformação e longo prazo extraem o verdadeiro perdão, aquele que olha para o futuro para preservá-lo e assim deixar que o passado no contamine.


Um comentário:

  1. Paulo Emanuel Doro Pereira07/12/2011, 15:17

    Excelente artigo.
    Traduz o que penso a respeito do perdão. Não esta coisa barata, piegas, que se prega por aí.
    O artigo satisfez as minhas expectativas e creio que está coerente com a justiça divina.
    Parabéns pelo texto.

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