Esse é um dos assuntos mais tratados pelos
pregadores, e especialistas em aconselhamento. O perdão é a pauta de vários seminários,
esta sempre presente nas mais diversas terapias, sejam elas comportamentais
sejam elas de cunho espiritualista, de fato não é possível se falar sobre vida
sem se falar em perdão.
Contudo com um pouco de atenção é possível verificar
a existência de alguns mitos que de alguma forma podem na realidade adoecer
mais do que curar as pessoas que tiveram algum passado traumático ou mesmo que
foram o alvo de algum tipo de violência ou abuso. São mitos que se replicam
entre falas e aconselhamentos, são mitos porque não são capazes de se
sustentar, e talvez possam criar esperanças frágeis que se transformaram
rapidamente em mais um trauma. Assim sendo vejamos alguns desses mitos:
Mito 1
Quem perdoa esquece:
o esquecimento é próprio de quem sofre de amnésia, perdão não é amnésia, perdão
não é esquecimento, embora quem perdoe deve ser desestimulado a lembrar-se
sobre o ocorrido, não é possível que alguém não seja capaz de ser lembrado de
fatos, nomes, e pessoas.
Mito 2
Quem perdoa não quer justiça: é importante que se diferencia três elementos
importantes,vingança, justiça, e correção. A vingança é um desejo mesquinho, é
querer que o outro sofra na mesma proporção o dolo que promoveu. A justiça e a correção
consistem em solidariedade com o que é honesto, integro. Perdoar é ser
equilibrado no sentido de evitar qualquer compromisso com a “lei de Talião”,
aquela lei que diz que a justiça se faz “olho por olho, dente por dente”.
O perdão não é ausência de aspiração de
correções. A vingança olha para trás, pretende corrigir o passado, a correção
olha para frente, quer prevenir o futuro. Quem perdoa para de olhar para trás,
contudo não perde de vista o futuro, para que os traumas de ontem não se
reproduzam amanhã.
Mito 3
Quem perdoa não exige arrependimento: perdão sem arrependimento é anistia, pode
a médio e longo prazo inibir o super-ego e despertar sociopatia entre os
agressores, nas relações humanas exigências tendem a gerar patologias, manipulações,
de tal forma que um agredido não deve iniciar uma busca frenética pelo
arrependimento do ofensor, ornada com a cereja do pedido de perdão que enfeita
o bolo da restituição.
Contudo o perdão não é algo banal, barato, sem valor, sem custo, que deve ser distribuído de maneira leniente e relaxada. Isto porque pelo menos nos textos religiosos, em particular o texto bíblico, perdão e arrependimento SEMPRE APARECEM JUNTOS.
Contudo o perdão não é algo banal, barato, sem valor, sem custo, que deve ser distribuído de maneira leniente e relaxada. Isto porque pelo menos nos textos religiosos, em particular o texto bíblico, perdão e arrependimento SEMPRE APARECEM JUNTOS.
Mito 4
Quem perdoa fica curado: é verdade que o perdão auxilia a interrupção de processos patológicos existentes
em virtude de ofensas, agressões ou mesmo abusos, contudo o que adoece são os
fatos, as implicações destes, são os resultados que adoeceram, o perdão poderá
minimizar estes efeitos, mas dificilmente eliminará todas as patologias existentes.
Isto porque alguns distúrbios são resultados de perdas, não necessariamente da memória
da perda. É importante que se diga que perdão não é automático, ele é um
processo, exigir da parte ofendida uma resposta piedosa fora do tempo é
prolongar a violência.
Então
o que se pode dizer sobre isto? O que se pode fazer pelas pessoas que são
ofendidas, e pelos ofensores é identificar toda e qualquer aspiração revanchista,
sem com isso ignorar a necessidade de correção e disciplina. Os ofendidos não podem
ser colocados no banco dos réus, no tão logo manifestem dificuldades em assumir
a postura perdoadora que todos exigem. Chantagear com doenças, castigo divino, rotulação
não ajudam as pessoas abusadas e ofendidas, o que essas pessoas necessitam é aceitação,
pois esta sim, gera saúde e transformação e longo prazo extraem o verdadeiro
perdão, aquele que olha para o futuro para preservá-lo e assim deixar que o
passado no contamine.
Excelente artigo.
ResponderExcluirTraduz o que penso a respeito do perdão. Não esta coisa barata, piegas, que se prega por aí.
O artigo satisfez as minhas expectativas e creio que está coerente com a justiça divina.
Parabéns pelo texto.