28 de ago. de 2010

Coração ou estômado? De quem é a direção da vida?

“… E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina…”
Marcos 7.20


Em 1997 o publico em geral pode tomar consciência de um transtorno muito comum na população das grandes cidades, o transtorno Obssessivo compulsivo. De maneira engraçada o ator Jack Nicholson protagonizou o filme “melhor impossível”. No filme ele é o romancista J. T. Walsh, um portador desse transtorno. De maneira engraçada as pessoas podem ver como sofre, e faz sofrer as pessoas que são acometidas deste transtorno. É possível verificar que o incoveniente não está apenas no fato de se perder muito tempo lavando as mãos, ou trocando talheres, o transtorno é responsável por afastar de perto todo e qualquer pessoa que queira ser simpática. Isso porque o portador de Toc, julga o mundo impuro de tal forma que pode ameaçar e “profanar” a sua vida. A palavra de ordem é isolamento.

Uma leitura mais “cirúrgica” dos evangelhos nos revela traços deste tipo de conduta em publico bem conhecido de Jesus, os fariseus. No evangelho de Marcos, Jesus é censurado pela seita dos fariseus por não ensinar os seus discípulos a lavar as suas mãos, enquanto eles, não lavavam apenas as mãos, mas tomavam banhos tão logo chegassem dos mercados francamente freqüentado por gentios.

A resposta de Jesus é emblemática, ele não só contesta a autoridade da fonte na qual os fariseus haviam extraído essa informação, a tradição, e não a lei mosaica tida como inspirada, como re-significou o conceito de pureza e profanação. Mas não foi apenas isso, Jesus contestou alguns elementos relativos a integridade. Um deles é o fluxo da influencias. Para os fariseus portadores do Toc religioso as influencias profanadoras do mundo deveriam ser como a contaminação dos alimentos, ou seja, vem de fora para dentro. Se extrapolarmos o pensamento da seita inimiga de Jesus para a formação do comportamento do individuo, nos seremos levados a pensar que isso se dá por conta da influencia do meio, das imposições do grupo. É aquela velha desculpa, somos o que a nossa família, e tribo nos conduzem a ser! Afinal o que contamina o homem vem de fora! Esse é o ensino do fariseu.

E verdade que o meio é poderoso, contudo Jesus nos adverte que o que contamina o homem não é o que vem de fora, mas o que já esta dentro. Para Cristo a natureza humana já é predisposta para posturas egoístas e misantropas. O fluxo das pulsões é de dentro para fora e não de fora para dentro. A profanação e contaminação é um processo se faz na medida em que as pessoas abrem as suas bocas e expõem o que de fato tem.

Outra concepção que consiste em um conflito entre Cristo e os fariseus consistem no que é centro das pulsões do ser humano. Para os fariseus é o estômago, que deve ser preservado de todas as purezas, é o seu aparelho digestivo. Para o fariseu portador de Toc, o centro da vida esta ventre, é o ventre que governa, são as aspirações mais básicas da vida, os interesses estão lá na base da pirâmide de Maslow, e lá ficam. Mas Cristo propõe um outro centro dos impulsos, o coração, não o músculo por onde é passa o fluxo vital. O que Cristo nos revela é que conceitos mais valorados para as pessoas não podem ser encontrados no consciente, mas lá na profundeza das nossas motivações. O “estomago bem como o fígado e os intestinos” podem ser domesticados, isso na medida em que as pessoas aprendem a lidar e a conter as suas “mal-criações” enfim as pessoas se contem.

Já o coração não é domesticado, uma vez que ele se esconde e esconde dentro dele toda a sorte de aspirações. Ao contrario do que J. T Walsh de “Melhor impossível” os discípulos de Cristo deveriam lavar muito, e de “sadiamente compulsiva” os seus corações, as suas motivações, as seus mais instintivos e íntimos desejos. Isso por que o que contamina o homem, não é o que entra, mas sim o que dele sai, por que provem do coração.

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